Financiado por uma corporação, um grupo de cinetistas testa a veracidade da sua teoria da criação humana por uma raça de criaturas extra-terrestres.
Muito resumidamente, esta pode ser a descrição do mais recente filme de Ridley Scott, Prometheus. Outra descrição, muito mais bombástica, seria “é a prequela do Alien!”. Uma estratégia de comunicação que não foi utilizada pelos produtores, e em boa hora assim foi decidida. Ridley Scott sempre se mostrou evasivo quanto a esta questão e, de facto, pouco há em comum com a obra-prima que nos apresentou em 1979. Sim, é uma prequela, mas apenas de forma lateral ou seja, passa-se no mesmo universo narrativo mas é uma estória diferente com muitos pontos de contacto.
Prometheus mantém as marcas de produção visual de Ridley Scott. Um design impecável e uma atenção ao detalhe quase doentia. Apenas a criação de ambientes sai prejudicada pela decisão de filmar em 3-D. Todo o ar sombrio e ameaçador da Nostromo é agora substituído por uma nave exageradamente iluminada e anacronicamente mais bem apetrechada que o meio de transporte de Ripley e companhia. Um fenómeno conhecido como “Paradoxo Ameaça Fantasma” que tem tendência a ocorrer sempre que se decide fazer uma prequela algumas décadas depois do original.
Mas voltemos ao filme em questão. A data de estreia acaba por se revelar coerente com a estrutura e desenvolvimento. Estamos na presença de um bom filme de entretenimento, quase um blockbuster de Verão, com um ritmo bastante veloz no entanto com pouco espaço para criar uma atmosfera onde o espectador se possa ambientar. Honra seja feita aos minutos iniciais no planeta Terra e às cenas de apresentação do andróide David (grande Michael Fassbender). A partir do momento em que a tripulação acorda, segurem-se bem, porque vêm aí os pontos essenciais da narrativa e vão ter de se recordar deles. Não atingindo níveis catastróficos, os diálogos ocupam-se apenas de ser funcionais com poucas pretensões além disso, uma das desvantagens de ter demasiadas personagens num período de tempo limitado, sendo que algumas delas são absolutamente desnecessárias (sim estou a falar de ti, Charlie Holloway).
Confrontados com a oportunidade de buscar o Criador, devemos fazê-lo? Questioná-lo? Porque estamos aqui, o que existe além? E se não gostarmos da resposta que temos a ouvir? E se não existir resposta? Não são questões novas a aparecer no mundo da ficção ciêntifica. Star Trek – O Filme (1979, Robert Wise) coloca as mesmas questões e parece-me, de uma forma mais elaborada e completa que esta concretização de Prometheus. E, sobretudo, de forma menos previsível.
P.s.- o significado de Prometheus vai além do nome da nave espacial e da referência à cultura Clássica. Revelá-lo seria um enorme spoiler, mas a sua busca interpretativa é um dos maiores prazeres deste filme.