O Filme. O Trailer. O Poster. O Video-Clip. O Actor. A Actriz. O Realizador. Cinema enquanto passatempo, paixão e vício.
publicado por Fernando Oliveira | Segunda-feira, 11 Agosto , 2008, 21:46
Gosto de Judd Apatow. Gostava das séries que criou para a televisão e vim a saber mais tarde serem dele: “Freaks and Geeks” e “Undeclared”. Aqui encontra-se a génese do humor perpetuado nas obras com o dedo Apatowiano (permitam-me cunhar o termo): os desajustados, os marginais de determinada classe assumem o protagonismo e por isso é tão fácil aderir a esta migração para o cinema de conceitos e personagens que antes não o povoavam. Já não são as personagens representativas do maior denominador comum que aparecem aqui, são os amantes da marijuana, os perpetuamente inadaptados que Apatow ama e apresenta ao seu espectador. Basta ver quem são as personagens centrais dos seus filmes. Em “Virgem aos 40 anos” é ... bem, o título explica. A personagem de Steve Carrel era ainda o desajustado adolescente sem jeito para abordar raparigas e que mantinha uma colecção enorme de “action-figures” ainda dentro da embalagem original, para não perderem valor. “Superbad” recua até ao final da adolescência e ao momento marcante em que os dois melhores amigos se separam para melhor apreciarem as companhias femininas. “Knocked Up” apresenta outro momento de passagem, o jovem adulto que se apercebe que vai ter um filho e tem de se deixar dos hábitos do lobo que vive em alcateia em regime de sobrevivência hedonista.
Com todo este discurso prévio pretendo demonstrar como, apesar de ter emitido juízo de valor extremamente subjectivo logo no início do texto, este texto baseia-se em critérios objectivos, atrevo-me mesmo a considerar Apatow um “Autor”, sim com a maíuscula, dada a sua persistência em tratar certos temas e centrar as suas obras, como realizador ou produtor, em tipos de personagens muito específicos. Agora com “Forgetting Sarah Marshall” encontramos novamente o jovem adulto. Desta vez é um jovem adulto de sucesso, a trabalhar numa área que escolheu, apesar de não ter toda a liberdade criativa que desejaria, e encontramos outro momento marcante para a vida masculina: o abandono da namorada de longa-duração. Peter Bretter é o compositor de banda sonora de uma série televisiva de sucesso, da qual a namorada é a estrela e a Sarah Marshall do título. Destroçado pela ausência da namorada decide tirar um período de férias no Havai onde, enorme azar para ele, mas motor do filme, volta a encontrar Sarah, também de férias mas com o novo namorado, o rocker britânico Aldus Snow.Nick Stoller dobra como argumentista e actor principal, ele que já havia trabalhado com Apatow em “Freaks...” e em “Koncked Up” e pode ser visto na interessante série “How I Met Your Mother”. Sendo o argumentista o principal actor, não se pode deixar de referir o coração e alma com que Stoller agarra a personagem. No trabalho de actores há pouco mais a destacar (já vi o filme há cerca de dois meses, posso não me estar a lembrar de todos), com interpretações competentes da maioria do elenco e um Russell Brand fantástico como Snow mas que me parece ser apenas uma persona que este comediante britânico já adoptou (uma recente entrevista levo-me a esta conclusão). De facto, as personagens parecem ter sido adaptadas à personalidade dos actores com Jack Mcbrayer a interpretar novamente um inocente vindo do sul dos Estados Unidos, tal como em 30 Rock, Paul Rudd é o descontraído instrutor de surf e Mila Kunis é a simpática recepcionista do Hotel. Posso andar longe da definição psicológica destes actores mas as persongens que normalmente interpretam apresentam estas características. Estaremos perante um caso de type-casting aplicado a todo um elenco de um filme? Fica a dúvida no ar, pelo menos para já.
Deixando a parte saborosa e que me vai merecer mais elogios para mais à frente, passemos pela realização e aqui gostaria de colocar uma enorme dúvida: qual é o estilo de realização para a comédia? Visto sempre como um género menor, poucos são os actores ou filmes distinguidos ao mais alto nível nesta categoria e a dúvida perpetua-se neste filme. A realização é extremamente funcional, sem qualquer rasgo que lhe possa ser apontada, de tal modo que o nome do realizador me escapa neste momento. Valerá talvez uma investigação aprofundada, quiçá uma tese de mestrado nos próximos anos, identificar códigos e marcas de realização no género comédia... Existem alguns problemas de raccord, nomeadamente numa cena em Peter tem um copo e, por artes mágicas, o copo muda de mão em cada troca de plano. Nada de muito grave e que possa de alguma estragar aquilo de que vou escrever a seguir.
Tal como em todas as outras obras com o dedo da linha de montagem de Judd Apatow, “Sarah Marshall” está carregado de referências à cultura pop. A começar logo nos primeiros planos do filme, com a apresentação da série onde a personagem titular trabalha, “Crime Scene: scene of the crime”, em que Sarah Marshal é uma detective especializada em Ciências Forenses, especialização que usa para capturar criminosos, em parceria com um outro detective, este com uma pose excessivamente cool, sempre de óculos escuros na cara e com um one-liner pronto a sair a qualquer instante, antes de entrar a banda sonora. Uma clara referência a... Vá lá, eu sei que vocês sabem... Não, não vou dizer, deixem lá nos comentários as hipóteses e dou um chupa a quem adivinhar primeiro.Em frente, a sátira às celebridades do mundo do entretinemto é o ponto forte deste filme. A começar pela mimetização das populares séries de investigação, Aldus Snow é depois apresntado como uma versão ainda mais exagerada de Bono e a sua suposta consciência social. No entanto, como a consciência social já não vai estando na ordem do dia, Snow é eco-consciente e a sua canção de despertar de mentes é “Alguém tem de fazer alguma coisa”, um hino a toda a piroseira pop que vai povoando os tops dos mais vendidos. O filme prossegue, alegremente destruindo ícones pop até, alguns minutos depois do inicio da película, somos brindados com a nudez frontal de Nick Stoller, mostrando como o resto do filme seguirá o registo do Humor de Humilhação.
Há um problema com os filmes de Judd Apatow no mercado cinematográfico português. A que público devem ser dirigidos? Até aqui temos assistido a traduções ignóbeis que desvirtuam completamente a percepção que espectador pode ter do conteúdo do filme. Super-Baldas (acompanhado de uma campanha de spots publicitários horríveis) e “Um Azar do Caraças” são dois exemplos de traduções que apelam a um público mais familiarizado com a saga American Pie e com o seu humor debragado e sem qualquer neurónio que o sustente. Nos filmes de Apatow encontramos, à primeira vista, o mesmo tipo de humor que sobrevive através de funções corporais em situações inapropriadas e innuendos sexuais de baixa estirpe. Sim, estas características estão lá, à superficie, mas mascaram uma camada inferior de sátira bem pensada (o trabalho de Stoller como argumentista deste filme é assinalável) e, sobretudo, de momentos importantes na existência de qualquer ser humano que acabam por demonstrar uma sensibilidade de tratamento assinalável. Como prova de ma campanha publicitária mal direccionada e da escolha do genial título nacional de “Um belo par... de patins” temos as meninas me fizeram companhia enquanto espectadoras na exibição deste filme. Olhando de relance a conclusão que se podia tirar era estar na companhia de um grupo de adolescentes de 14-15 anos, sem capacidade de encaixe para a maior parte das referências pop que, claramente, foram ao engano. Deixo-vos com a pérola que ouvi aquando da nudez frontal do actor principal, precedida de inspirações de espanto: “Não vi!”...

ERRATA: onde se lê Nick Stoller, referindo-se ao actor principal e argumentista do filme, deve ler-se JASON SEGEL. As desculpas ao visado.

LadyS a 28 de Agosto de 2008 às 16:23
Ah, e sobre referências ao Chuck Norris do século XXI, David Caruso, ver no Youtube a fantástica imitação do saudoso Jim Carrey...

(quero um da Chupa-Chups dos novos, maçã, ananás e manga)

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